Ceticismo aprofundado



"O Brasil acordou", afirmam os entusiastas ou apoiadores integrais da nova moda brasileira: o protesto. Será? Não acredito em "despertamento" pautado na ignorância, falta de conhecimento sobre um fato, ou mesmo na negligência, saber sobre as implicações de uma ação ou discurso e, mesmo assim, sustentá-lo.

Por isso, meu ceticismo quanto aos frutos de toda esta onda de gente com o "#vemprarua" estampado em cartazes, assinando postagens em redes sociais e tudo o mais, só aumenta. Qual a necessidade de agredir os integrantes de quaisquer partidos que queiram, pacificamente, atender ao chamado?

Os militares também não gostavam do pluripartidarismo e, com o pensamento miserável, decidiram editar o Ato Institucional nº 2 (AI-2) em 27 de outubro de 1965. No artigo 18 do monstrengo jurídico, lê-se: "Ficam extintos os atuais Partidos Políticos e cancelados os respectivos registros."

Odeio as ideias marxistas endossadas por partidos como PCdoB, PT, PSOL e afins. No entanto, tenho o dever cívico de respeitar a formação das legendas e ponderar seus pontos de vista. Concordar com ideias pífias de que eles não podem se expressar, seja lá em que tipo de ajuntamento for, é coisa de ignorante, boçal, tolo, oco, anti-democrático. Não pactuar de um pensamento não significa que devo impedir sua expressão.

Não querer a liderança de líderes partidários para evitar desvios das intenções que, francamente, começaram turvas e estão cada vez mais embotadas, é compreensível. Agora, a intolerância com a simples presença dos mesmos não é prática aceitável.


Os partidos políticos estão resguardados pela Lei. Ou a Constituição Federal também não vale mais nada para quem está protestando? As reivindicações que são ouvidas nas palavras de ordem puxadas ao som de megafones ou escritas nos cartazes são direitos previstos nela: saúde, educação, moradia etc. 


Ainda estamos aquém da plenitude do que ela preconiza? Infelizmente. Contudo, a conquista desses direitos não será possível de fato pela negação da lei vigente. Implodir um sistema para construir sobre escombros não é plano inteligente. Construir ou reformar, é plano mais salutar do que querer destruí-lo.


Para concluir, reproduzo trecho do discurso de Ulysses Guimarães (1916 - 1992) no qual, em 5 de outubro de 1988, no ato de promulgação da Constituição Federal ele afirmou: "A Constituição certamente não é perfeita. Ela própria o confessa, ao admitir a reforma. Quanto a ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca. Traidor da Constituição é traidor da Pátria."

 
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