No dia 17 de junho de 2013, uma segunda-feira, ocorreram diversas manifestações pelo país que participantes e entusiastas querem chamar de ‘marco histórico’, ‘despertamento do gigante’, ‘revolução jovem’, e outros ufanismos.
Perdoem-me os mais entusiasmados, mas tenho o direito de alimentar meu ceticismo e dá lugar a um espírito blasé.
Apesar disso, fiz questão de comprar os jornais de circulação nacional do dia 18, para integrar a minha hemeroteca. Afinal, são registros obrigatórios de fatos que, independente dos seus desdobramentos, devem servir para alguma coisa.
A data passa, sim, a ter mais um evento a ser citado. O outro, é que neste mesmo dia, em 2009, o Supremo Tribunal Federal derrubava a obrigatoriedade do diploma para exercer a profissão de jornalista.
Não tenho dúvidas, que pelos números da mobilização, especialmente os positivos, o evento deve ser lembrado. Contudo, tenho o direito de fazer perguntas, uma vez que isso não ofende (ou ofende?).
Eu também não tenho respostas e, provavelmente, apenas o correr dos dias, meses e anos, de fato poderá, talvez, responder.
1) O 17 de junho de 2013 será relembrado daqui a 360 dias?
2) Será que nas eleições de 2014 estas manifestações e seus desdobramentos servirão para expurgar Calheiros, Genoínos, Dirceus, Malufs, e outros aloprados afins, verdadeiros ícones do cinismo?
3) Será que ouviremos menos eleitores perguntando aos candidatos a vereador, deputados estadual e federal menos pedidos, ou melhor, nenhum pedido, para pagamento de coisas prosaicas e passarão a indagar sobre planos de governo?
4) Será que teremos mais eleitores comparando currículo de candidato para decidir o voto ao invés de fazê-lo pelo jingle mais divertido?
5) Será que vamos ver a brincadeira com o voto, responsável pelo ingresso de elementos como Tiririca e outros indivíduos que fazem “micagem” com o horário eleitoral nas emissoras de rádio e televisão?
6) Falando em mídia, será que a audiência da Rede Globo vai, de fato, diminuir?
7) Se há tanta gente contra a Copa do Mundo, os ingressos disponibilizados serão utilizados apenas pelos turistas?
8) Será que os pais passarão a acompanhar as atividades dos filhos em suas escolas?
São só perguntas. Não precisa querer me linchar. Não fui à Capital, provavelmente não iria, considerando as narrativas pouco animadoras dos dias anteriores. Também não preciso provar a ninguém quanto à minha cidadania militante.
Sou contra as manifestações? Não. Só não consegui ter certeza que se sabe, de fato, o que se quer. Já disseram que não era só pelos R$ 0,20 de aumento (revogado na quarta-feira) na tarifa de ônibus, metrô e trem em SP.
Colocaram no balaio: Copa do Mundo, PEC 37, Marco Feliciano (cômico que não ouvi ninguém falar Genoíno, Dirceu, Delúbio). Saúde, Educação, Habitação, Segurança. Ok. São discussões legítimas? Óbvio. E como trabalhar as políticas públicas? Com apartidarismo?
Tem um sem-número de pessoas dizendo que são apartidárias. E daí? Dizer que não gosta do sistema político vai, de fato, trazer as mudanças que se pretende?
Louvável e assertiva a busca pela consolidação do movimento sem cor partidária. Na segunda, em São Paulo, manifestantes que apareceram com bandeiras de seus partidos tiveram de recolher e participar apenas com a cara. Pela natureza do evento, a restrição é coerente.
Entretanto, o sistema que vivemos é de representação parlamentar que ocorre pelo pluripartidarismo. Logo, passada a euforia, essa multidão vai se fazer representada pelos caminhos legais?
Teremos pessoas, preferencialmente jovens, saindo do meio da turba para ocupar os lugares dos corruptos que hoje são rechaçados?